Rimas da Esperança

 

Selecionamos algumas poesias de Auta de Souza, que sempre nos tocam com seu amor, fé e esperança.

Indicamos também os três livros de Poesia de Auta.  Ótima Leitura.

Dálias – Auta de Souza

Coleção Escritoras do Brasil

Contém trechos manuscritos por Auta

capa horto 1

Livro não disponível para acesso gratuito, porém podemos acessar 116 poesias em DomínioPúblico

Poesias de Auta de Souza

 psicografadas por Chico Xavier

Mensagem Fraterna

Meu irmão: Tuas preces mais singelas

São ouvidas no espaço ilimitado,

Mas sei que às vezes choras, consternado,

Ao silêncio da força que interpelas.

 

Volve ao teu templo interno abandonado,

– A mais alta de todas as capelas –

E as respostas mais lúcidas e belas

Hão de trazer-te alegre e deslumbrado.

 

Ouve o teu coração em cada prece.

Deus responde em ti mesmo e te esclarece

Com a força eterna da consolação;

 

Compreenderás a dor que te domina,

Sob a linguagem pura e peregrina

Da voz de Deus, em luz de redenção. 

 

Psicografada por Francisco Cândido Xavier

 

Conversando

Se procuras a bênção da Alegria,

Desce ao vale do Pranto e da Tristeza,

Onde a dor de milhões clama, indefesa,

Sob o vento da noite imensa e fria…

 

Traze do que te sobre à veste e à mesa,

Socorrendo a miséria que te espia,

E espalharás, nas trevas da Agonia,

Os raios da Esperança e da Beleza.

 

Ajuda e sentirás o céu no peito,

A derramar-se, em júbilo perfeito,

No teu gesto de amor, envolto em prece.

 

E vencerás, feliz, penas e abrolhos,

Por que terás, na luz dos próprios olhos,

A visão de Jesus, que te agradece. 

 

Psicografada por Francisco Cândido Xavier

Prece a Jesus

 

Sê louvado, Senhor, pela bendita escola

Da verdade, em que Fé por sol se descortina,

Restaurando de novo a Celeste Doutrina

Em que o Mundo se eleva e a Vida se acrisola.

 

Templo, celeiro, lar, aconchego, oficina,

Revelação, apoio, entendimento, esmola,

Tudo que ampara, educa, alivia ou consola

Em tudo aqui te exalta a Presença Divina!

 

Enquanto o Mundo chora, anseia, luta e avança,

Faze de nossa casa um pouco de Esperança

Na construção do Bem à luz que te descerra…

 

Aspiramos contigo a ser, dia por dia,

Uma forja de paz que trabalha e confia,

Uma fonte de Amor na aspereza da Terra. 

 

Psicografada por Francisco Cândido Xavier 

Flores

A Leopoldina e Rosa Monteiro

 

Quando começa a raiar

O dia cheio de amor,

Eu gosto de contemplar

O coração de uma flor,

 

Desmaiada e tremulante,

Pendendo triste no galho,

Tendo o pistilo brilhante

Embalsamado de orvalho:

 

A rosa só me parece,

Assim tão casta e sem véu,

Um anjo rezando a prece

Um’alma voando ao Céu.

 

Do jasmim puro e mimoso,

A corola embranquecida,

É como um seio formoso

De criança adormecida.

 

Esqueço-me, então, das horas

A contemplar estas flores,

As violetas, auroras,

Saudades, lindos amores.

 

HORTO – Auta de Souza

Boêmias

 

Quando me vires chorar,

Que sou infeliz não creias;

Eu choro porque no Mar

Nem sempre cantam sereias.

 

Choro porque, no Infinito,

As estrelas luminosas

Choram o orvalho bendito,

Que faz desabrochar as rosas.

 

Do lábio o consolo santo

E o riso que vem cantando…

O riso do olhar é o pranto:

Meus olhos riem chorando.

 

O seio branco da aurora

Derrama orvalhos a flux…

O círio que brilha chora:

A dor também fere a luz?

 

Teus olhos cheios de ardores

Aninham rosas nas faces…

Que seria dessas flores.

Responde, se não chorasse?

 

Sou moça e bem sabes que

A moça não tem martírios:

Se chora sempre, é porque

Pretende imitar os lírios.

 

Enquanto eu viver no mundo,

Meus olhos hão de chorar…

Ah! Como é doce e profundo

Soluço eterno do Mar!

 

Do lábio o consolo santo

É o riso que vem cantando…

O riso do olhar e o pranto:

Meus olhos riem chorando.

 

Jardim – agosto de 1897

 

HORTO – Auta de Souza

 

 

Fio Partido

 

Fugir à mágoa terrena

E ao sonho, que faz sofrer,

Deixar o mundo sem pena

Será morrer?

 

Fugir neste anseio infindo

À treva do anoitecer,

Buscar a aurora sorrindo

Será morrer?

 

E ao grito que a dor arranca

E o coração faz tremer,

Voar uma pomba branca

Será morrer?

 

Lá vai a pomba voando

Livre, através dos espaços…

Sacode as asas cantando:

Quebrei meus laços!”

 

Aqui na amplidão liberta,

Quem pode deter-me os passos?

Deixei a prisão deserta.

Quebrei meus laços!

 

Jesus, neste voo infindo

á de amparar-me nos braços

Enquanto eu direi sorrindo:

Quebrei meus laços!

 

HORTO – Auta de Souza