Nossa Patrona - Auta de Souza

Apesar de sua rápida jornada na Terra, Auta de Souza teve uma vida marcada por dificuldades e perdas, que encontrou respaldo na poesia e espiritualidade para superar adversidades. Filha do casal Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues de Souza, Auta ficou orfã ainda criança.

Antes de completar três anos desencarna a mãe e dois anos depois, o pai. Tinha três irmãos mais velhos Elói, Henrique e Irineu e o caçula João Câncio. Após a passagem do pai, ela e seus irmãos foram viver com os avós, em chácara em Recife (PE).

Neste local, Auta recebeu todo carinho e atenção de sua avó, Dona Silvina de Paula Rodrigues, Dindinha, como era chamada, que foi a sua segunda mãe, um anjo em sua vida.

        “…Anjo bendito que me refugias…” (A minha avó)

Na grande chácara em Recife, era comum encontrá-la junto às mulheres do campo, velhos e crianças conversando e lendo as “Histórias de Carlos Magno”, brochura que corria o sertão ao gosto popular da época, levava aos seus ouvintes a diversão das leituras regionais, que os fazia sorrir e sonhar, resgatando-lhes a esperança e a força necessária para continuar lutando. Nesta fase, Auta tinha apenas oito anos de idade.

        ” …Quando começa a raiar

        O dia de amor,

        Eu gosto de contemplar

        O coração de uma flor…” (Flores)

As fortes marcas no coração estavam sempre presentes em seus poucos anos de vida. Aos dez anos de idade, no dia 15 de fevereiro de 1887, Auta foi marcada por uma grande tragédia familiar. Irineu, seu irmão companheiro, carinhoso e amigo de todos os momentos, desencarna, vítima de incêndio, ocasionado pela explosão de uma lamparina de querosene, sendo espectadora do trágico acontecimento, sem nada poder fazer.

        “…Não sei se mágoa mais profunda existe…” (Irineu)

Com doze anos, Auta foi matriculada no colégio de freiras São Vicente de Paula, em Recife (PE), onde iniciou seus estudos de literatura, inglês e francês.

Foi nesta época que foi desperta sua vertente literária. Os inspirados poemas cativavam todos que a cercavam. de maneira jovial e alegre como as demais moças da sua época.

Aos treze anos, surgiram os primeiros sintomas da tuberculose. Auta foi levada a vários médicos, mas não foi bem-sucedida com os tratamentos. No período que morou em Recife, Auta começou a ensinar religião para as crianças.

        “…Eu fiz do céu azul minha esperança…” (Celeste)

Com o agravamento da doença, a família iniciou uma peregrinação por diversas cidades do interior em busca de um clima mais adequado para a sua recuperação e após diversas tentativas sem sucesso no tratamento. Foi então que sua querida avó resolveu retornar a Macaíba, com toda família.

Durante 11 anos da doença, a sua produção literária aumentou e definiu-se. A fragilidade física era confortada pela fé e a religiosidade espontânea.

Com a poesia, era possível vislumbrar a beleza de seu interior, com os versos que expressavam os melhores sentimentos e a imensa gratidão aos seus familiares e amigos. Além de uma imensa singeleza ao referir-se à natureza, em especial as flores.

        “…Eu vou cantando pela estrada, enquanto riem crianças e desabrocham flores…” (Renascimento)

Apesar dos percalços da doença, Auta tinha esperança de constituir um lar, com esposo e filhos.

No ano de 1900, mesmo com a doença em fase avançada, ela reuniu todas as suas poesias, que foram publicadas em um livro intitulado “Horto”, seu único livro de poema. Câmara Cascudo, seu biógrafo, relata que quando ela recebeu o pacote com o livro, abriu-o e disse em voz alta Horto, e o levou ao coração. A primeira edição do livro esgotou em 60 dias.

        “…Meus olhos riem chorando…” (Boêmias)

Em janeiro de 1901, Auta parecia pressentir que seus dias na Terra estavam se esvaindo e escreveu seus últimos poemas de maneira ainda mais tocante.

Na madrugada de 07 de fevereiro de 1901, a poeta Auta de Souza se despediu da vida terrena, retornando a sua verdadeira morada, a espiritual, de maneira serena e tranquila, como quem acena com a mão numa breve despedida.

Para muitos, a morte se configura o fim, mas Auta de Souza carregava em seu coração a certeza do reencontro com Jesus, sua partida foi suave e confiante e significava libertação.

Em um dos seus últimos versos nos traduz:

        “…Jesus, este voo infinito

        Há de amparar-me nos braços,

        Enquanto direi sorrindo:

        Quebrei meus laços! (Fio Partido)

Auta de Souza e o Espiritismo

Espírito extremamente amoroso e comprometido com Jesus Cristo traz-nos a oportunidade de inúmeras tarefas, onde o seu amor acoberta e direciona.

Em certa ocasião, o Espírito de Auta de Souza se apresentou a Francisco Cândido Xavier, que psicografou poemas de alento, consolo e lições valiosas.

Espirito liberto, transmitindo a todos nós a beneficies da fé e da prática da caridade.

O primeiro soneto de Auta de Souza psicografado por Chico Xavier, em 1930, intitulado “Senhora da Amargura”, recebeu do médium um relato especial:

Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que comecei a chorar a de emoção, sem saber naquele momento se meus olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus…”. Mais tarde, soube por nosso caro Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do Norte.

O envolvimento de seu amor foi tão intenso que Chico em carta enviada a Manoel Quintão, dizia sentir muitas saudades quando o Espírito de Auta de Souza, ausentava-se e comentou: Quando ela escrevia fazia me sentir sensações indefiníveis. Algumas vezes eu sentia que ela estava em companhia de outro espírito, bastante elevado, que nos disseram tratar-se de uma colaborada da fraternidade de Celina, mensageira de Maria de Nazaré.

Espirito de imensa Luz, que em nossa e certamente em outras orbes, arrebanha espíritos equivocados em suas escolhas, perfilhando-os, como almas queridas com o intuito de reconduzi-los ao caminho do mestre Jesus, através do Exercício da Mediunidade e Tarefas Fraternas.

São diversos Centros Espíritas e Instituições Fraternas que têm Auta de Souza como Patrona e Dirigente espiritual.

O Centro Espírita Auta de Souza em São Paulo, fundado por Stig Roland Ibsen e sua esposa Edith Nóbrega Canto Ibsen, trata-se de uma das instituições que esta sob a direção Espiritual de Auta de Souza.

Um fato ocorrido, na Casa Transitória Fabiano de Cristo, a unidade social da FEESP, em abril de 1953, Nympho Correa idealizou uma campanha de arrecadação de donativos e divulgação da doutrina espírita, que aconteceria com visitas domiciliares, as coletas de donativos, seriam destinadas a famílias carentes cadastradas na unidade, na Campanha do Quilo. Em visita a Uberaba (MG) a Francisco Cândido Xavier, sempre em busca de orientação e aconselhamento o médium revelou a Nympho Correa, que um amoroso espírito se apresentava como protetora e orientadora da nova tarefa, e desde então, a Campanha do Quilo passou a ser chamada de Campanha Auta de Souza.

Devido as inúmeras instituições que realizam esta tarefa foram criadas normas, contidas no livreto: Bases e Regulamentos da Campanha de Fraternidade Auta de Souza, pela sociedade de Divulgação Espírita Auta de Souza, no Distrito Federal.

Atualmente, as campanhas Auta de Souza, ultrapassaram as fronteiras nacionais.

Gratidão a Auta de Souza, espírito iluminado, que das esferas do Altíssimo vem a nós, perfilhando-nos, sob a sua fé cristã. Revive entre nós, para clarear o caminho, que nos trará a paz, o equilíbrio, a libertação.

Auxilia-nos, estendendo suas mãos caridosas, nos dando condições, pois sustentadas pelo seu amor, nos dão a necessária e bendita oportunidade de estendermos as nossas.

        Glória ao Bem

        A anônima semente pequenina

        Atirada por mão piedosa e boa,

        parecia dormir no charco, à toa,

        Sorvendo o sol aos beijos da neblina…

        Depois cresceu, abrindo-se em coroa,

        Árvore nobre a frondejar, divina,

        Fruto a fazer-se pão que nutre e ensina,

        flor que perfuma, tronco que perdoa!…

        Assim é o bem humilde que semeias

        Pelo espinheiral das dores alheias

        Que sombra, provação e angústia encerram…

        Hoje singela dádiva perdida

        Amanhã será luz, beleza e vida

        Dulcificando as lágrimas da terra.

 

Referencias:

AUTA DE SOUZA – Francisco Cândido Xavier, espírito Auta de Souza –

Pesquisas biobibliográficas: Stig Roland Ibsen, Prefácio e biografia: Clóvis Tavares, 1980.

Campanha de Fraternidade Auta de Souza – fevereiro/1972 – psic.Francisco C. Xavier

]Horto- Auta de Souza – Fundação José Augusto -Natal, 1960 – 4ªedição.