Fragmentos de uma Mensagem a um Irmão de Criação
Para a maior parte dos Seres os tempos que sobrevêm à morte não existem. Para outros, estes tempos são de alçada Divina ou juízo final de um Senhor supremo cujas decisões estão interditas à apreciação comum. No entanto, a todos importa sejam compreendidas as Leis que nos regem, ainda neste arcabouço, se possível, antes que a natureza o reclame, terminada a motivação principal de permanência do espírito; pois a realidade é totalmente diversa para aquele que expira e adentra na dimensão da espiritualidade.
Julgamos, portanto, oportuno o entendimento sobre o postulado da continuidade, da evolução pela Lei Moral, não a de salvação eterna de sua alma, que escapa a qualquer atribuição alheia. O mérito real é elaboração particular a que responde sintonia que determina: “a cada um segundo as suas obras”. Assim, qualquer localização postumária definitiva, segundo disposição absolutória é inaplicável, agora e sempre. Céu e Inferno são figurações de muitos, pouco afeitos à verdade, pois a vida é elaboração contínua da qual uma só existência é átimo sem poder de plena realização. A existência é algo mais que um processo de respiros até que se esgote a capacidade de usufruto e retenção da vida física!
Lembramos que a vivência no plano físico, face à evolução, independe do tempo de criação e serve a qualquer, em qualquer lugar e tempo, de aperfeiçoamento. Se os valores extrínsecos a muitos confundem pelas rotulações humanas, atribuídas ou herdadas, só o espírito, submetido aos transes da vida e deles vitorioso pelo bem, possui o coração puro, acessório natural para o curso superior aí, aqui ou além.
Viver é sobreviver, não só pela utilização das Leis naturais, e sim de Leis Morais, o que determina o domínio espiritual, e é nesta relação que tem origem a nossa evolução.
Já de remotas eras vemos a conduta do Ser e as reversões acionadas pela maneira prefigurada de sobreviver e realçamos que é necessário diferenciar e desassociar da perfeição, a paixão pela glória, sob todos os aspectos.
Ressaltamos desde já, embora o passado ignorado, que não existe algo a atribuir de um pecado original, predeterminação de sofrimento; e, sim, algo que nos falta exigindo aperfeiçoamento. O porvir é consequencial do curso livre da tendência e arbítrio de nosso espírito, sempre sobrevivente. Inferimos que muitos se surpreendem nos acontecimentos sem causa lógica de que são testemunhas. A qualquer dúvida resultante, das motivações, causas e efeitos desconhecidos, recorram ao princípio da continuidade, compreendendo que a ação e a reação é que combinam coerentemente os sucedimentos. Ao relacionar nos acontecimentos de ontem a nossa participação consciente, valorizemos agora o tempo em obras de amor, pois o progresso do Ser depende dela, da evolução, que é da criação toda, e ninguém librará justificado sem o cumprimento da Lei Moral.
Esgotar nossas tendências menos dignas pela prática da benquerença é procedimento exclusivo que permite não nos surpreendermos novamente no trânsito da espiritualidade da qual somos primevos viajores.
Podemos, portanto, suprimir desde já do curso existencial o grosseiro fatalismo com o qual se imprime as coisas obscuras e adversas do caminho evolutivo. O sofrimento é o sinal da Lei de que entramos na reação de nossas ações que representam analogia relativa por nós criada alhures. O entendimento de sua ação regenerativa atende a paz do espírito que reconhece: “a semeadura é livre, mas a colheita é sempre obrigatória”.
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Se até hoje o Ser confunde os valores dos bens materiais com os bens espirituais, é porque não realizou este último para avaliação do primeiro. Temos encontrado, por isso, objeções sérias sobre a conduta do Ser que declina dos favores materiais quando estes significam rompimento da conduta moral. Esta atitude nasce exatamente por serem os bens materiais de valor transitório e os bens espirituais estáveis e eternos. O Ser espiritualizado nada mais fez do que aplicar-se ao que vale mais. Se a moral sugere ser difícil a um rico entrar no mérito, é porque se reconheceu que a riqueza tem o poder de obnubilar as tendências ascensionais que a virtude obriga. Não foi condenada a riqueza em si mesma, mas o Ser que sendo rico, salvo as raras exceções, dela se prevalece para dominar e aviltar. O tempo o surpreende pobre de recursos morais para os benefícios da riqueza espiritual. Assim, muito embora se justifique a obtenção dos bens essenciais, sem o que passaríamos todos à condição de mendigos dos valores alheios, sabemos que o manuseio e a obtenção desses valores se regem por uma Lei, a moral, e a sua reversão nos será extremamente ruinosa e, preferivelmente, a esse preço, não os devemos adquirir. Como a miséria em qualquer tempo é resultante dos desvios de valores de bem comum (pelo jogo econômico para círculos egocêntricos), assim a riqueza é a miséria espiritual. Encontramo-nos na vida física com uma média de vivência, cujo tempo de duração não vale a enormidade de sofrimento, em busca só de bens perecíveis. A quem atende o conseguimento moral senão a nós mesmos? A quem foi realçada a prática do: “amai-vos uns aos outros” senão a nós mesmos? Temos o poder de retificar, agora, desvios praticados há milênios, mas preferimos a reação compulsória da Lei, que nos entreva por séculos, pela nossa obstinação. Tendo em conta a eternidade de nossa existência, os múltiplos estados físicos e espirituais nos mais diversos planos do universo, é extremamente importante participar desta continuidade em harmonia com as leis que as regem. Iniciar pela reforma íntima é um passo decisivo na conquista do mérito. Manter-se fiel aos propósitos que o “querer bem” indica, perpétua o Ser na faixa dos benfeitores da humanidade. Esta reforma é extremamente difícil e a sua aplicação contínua ainda mais. Proponha-se, no entanto, a viver por este ideal maior que não exige rotulações humanas. A reforma íntima nada tem a ver com a do próximo e a ausência desta nos demais não desculpa a nossa. Assim, também não obriga resultados segundo padrões humanos, e quem consegue divisar a trajetória do Ser além da morte entende de que benefícios falamos. Aos que não alcançam esta verdade por falta de convicção íntima torna-se difícil aquilatar o sentido desta assertiva. Nós sabemos que a sobrevivência é lei da vida; determinadas expectativas não se esgotam ao primeiro impulso ascensional. O Ser pretende, sem o cumprimento do dever moral, participar dos benefícios da lei perfeccional de que tantos anunciaram a existência. Embora estejamos no respiro desta, dela só participaremos em perfeita harmonia de nossos sentimentos. Em vista às dificuldades de relacionar as benesses próprias desta conduta, o Ser se apega ao conjunto dos bens materiais, nem sempre equacionando os valores de ordem moral que estão em jogo, atraindo para si sofrimento segundo a ordem de ideia, poder e domínio, utilizados para a sua obtenção.
Não se lembra, nem cogita, de que seus alicerces já foram destruídos muitas vezes nesses milênios, com o sopro do desalento alheio!
O Ser é capaz de estarrecer um animal e seu pruridos de bondade não eliminaram ainda a miséria. A humanidade aplaude, ainda, o valor da força sobre a beleza; então, se no conjunto há tanto que fazer, por que aceitar que isso seja dever do próximo? No caminho percorrido até agora, foste o “Bom Samaritano”? Ora, enquanto não atingires este estado d’alma, indicativo do indivíduo integrado no bem, a Lei te debitará as reversões consequentes; ela te alcançará num ou noutro plano de vivência, em qualquer tempo onde esteja a tua consciência.
Temos, no entanto, como certo que todo Ser é levado ao seu plano de ação pelo processo evolutivo, de aspecto individual e coletivo, cujo princípio se baseia no amor, a fim de ativar a solidariedade dele emanante. Assim, na análise da sucessão dos acontecimentos de livre escolha, esperamos que o Ser compreenda a sua evolução pela pluralidade existencial, e os conflitos, que se geram, a cada um, como uma advertência de que estamos colocados na faixa de ação-reação-reparação solicitada, situações essas que possuímos o poder de ativar, bem como de abreviar.
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Muitos que analisam a existência levando em conta a sua pluralidade e as suas metas perfeccionais, encontram sérias objeções ao sofrimento que atinge o Ser no nascimento ou pela idiotia. Onde o processo regenerativo, evolutivo principalmente, daqueles que nem conseguem discernir? Como sentir que a vida, neste aspecto da sua manifestação, represente a justiça verdadeira? Não seria mil vezes mais lógico se aguardasse a plenitude física e racional para açoitar as inconsequências da imaturidade do espírito? E, em que foi útil este período de sofrimento à ação da Lei? Vemo-los em posição infra-terrestre e sub-humana de vivência, incapazes sequer de captar os motivos do seu desterro, a expiar com dores atrozes em atitudes repelentes, entrevados física e espiritualmente!
Do ângulo em que nos colocamos, realizamos o tempo no espaço de nossas ascensões passadas e futuras, e abrimos a porta do entendimento da vida presente. A visão, exposta diretamente sobre a manifestação da Lei, não abona o sentimento de que Ela, ao realçar a prática do “amai-vos uns aos outros”, não a utiliza por sua vez na correção de nossas deficiências. Temos exposto que a sua vontade determina as situações do porvir, e que a Lei do relativo perfeccional aguarda a sua decisão agora. Se o amanhã é hoje assentado pela decisão superior do livre arbítrio, onde se cria a reação, causa e efeito da ação, devemos levar tudo desta ordem como sendo produto de nossas obras. Tanto o nascituro como o demente possuem no espírito noções de valores morais, e, distanciados da matéria, sentem e refletem sobre as motivações pessoais na experiência que passam. Embora a pluralidade da existência e de uma Lei ascensional geral, no sentido perfeccional, pela ação da Lei moral para o equilíbrio harmônico do sentimento, devemos ter em conta o produto de nossas obras que criamos pelo livre arbítrio, segundo nossa vontade, pelas quais somos os únicos responsáveis, e lhe pagamos o tributo devido até o último ceitil.
Quando, então, vemos o Ser em atividade consciente, mas inconsciente quanto à reação da Lei, destruir, matar, torturar, roubar, mentir, enfim, assenhorear-se da vida e bens alheios, e dela dispondo com requintes de ferocidade, utilizando todos os meios aos fins mais escusos da luxúria, poder, soberba, domínio, dispondo quando oportuno de toda a capacidade para prejudicar ao próximo, então, quando retorna, o que o espera…
Mesmo o mais atroz dos sofrimentos representa, no tempo e na intensidade, a sua vontade. Assim, a Lei de que trata o sofrimento que lhe deprime o raciocínio é coisa sua e, se esgota no devido tempo de ajuste de contas solicitado. É imperioso, no entanto, amar o Ser em sofrimento. Trata-se de um irmão que buscou resgatar a dívida, perpassando-a em si mesmo, e, possivelmente dentro do grandioso declínio, surgirá a luz que nos iluminará a todos. Essa forma de resgate desejado permite a nossa sensibilidade conclusões errôneas, mas, antes do definitivo assentimento de opiniões sobre as Leis que nos regem, penetra no campo de expiação de cada um e encontrará justiça verdadeira em toda a amplitude onde alcança o raciocínio, desde que ultrapasse o átimo da vida presente e revele o passado obscuro e a radiosa oportunidade do tempo que se chama AGORA!
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O Ser participa dos planos habitacionais, quer físicos, quer espirituais, do universo, nas suas respectivas vibrações e dimensões, consoante a sua própria capacidade de sintonia. Encontramo-nos, por isso mesmo, numa limitação ditada pela própria evolução do Ser e das razões porque ele aí se encontra. Podemos acenar-lhe os benefícios da conduta puramente espiritualizada, sabendo, embora, que ele paga o seu tributo à Lei moral, que lhe exige o devido atendimento. No entanto, numa visão mais ampla, encontramos que o plano físico é interligado ao espiritual, não importando onde estejamos, já que o espírito é sobrevivente numa ou noutra dimensão. Daí, o nascimento e a morte significarem somente a passagem de um para outro plano de criação, e, em cada plano há leis, ambientes e meios consequentes de adaptação. O plano espiritual, de dimensões mais complexas, e vibrações mais sutis, estabelecidas segundo faixas harmônicas, possui a faculdade de interligar-se, coexistindo no mesmo tempo-espaço com outros planos físicos o que a muitos confunde. Certos fenômenos visam exatamente levar o Ser a cogitar da existência em outras dimensões, consequentemente em vibrações diferentes. Assim, encontramo-nos na continuidade de nossa existência além do plano físico e, portanto, além do termo morte. O Ser, independentemente de crer nisso, participa dessa continuidade naturalmente.
Só na esfera espiritual pode funcionar o agrupamento dos afins, nas vibrações e faixas correspondentes, pelos aspectos intrínsecos dos valores morais conquistados. No plano físico essas vibrações coexistem na matéria condensada que as encerra. No entanto, o agrupamento familiar e coletivo indica plenamente a sintonia relativa que rotula o trânsito do espírito. O Universo está, portanto, à disposição do viajor da vida, e, a Terra, situando-se na faixa de causa e efeito, ação-reação-reparação que lhe coube, é escola da alma, a cujo curso evolutivo recorremos desde o entendimento primário. No trato com as finalidades da vida, encontramo-nos nas incomensuráveis dimensões do nosso progredimento espiritual ao infinito. Certa sintonia intencional, com as outras faixas da espiritualidade, permitirá ao nosso entendimento relacionar as objetivações da vida e perceber o que lhe falta. Neste intercâmbio, forçoso é lembrar: a permuta de valores se rege sempre pelas nossas preferências, pois as obrigações a cumprir se resumem no apelo milenar: “amai-vos uns aos outros de coração puro”.
Não podem provar aqui suas assertivas, mas elas estão nos inúmeros fatos que a história registra há milênios. Raros, no entanto, procuram a perfeição pelo trabalho ininterrupto no bem. Mas, a título de absolvição, buscam os vendilhões dos templos, cuja mercadoria há muito não se valoriza no santuário das consciências livres. Não será, a evidência que permitirá ao Ser acreditar na sobrevivência e, sim, o seu entendimento, pois temos encontrado tremendas imposturas, face à prova, desvios esses que condicionamos à irresponsabilidade que caracteriza a muitos.
Não desejamos nesta mensagem limitar as realizações que a bondade atuante encerra, e nem mesmo excluir formas de entendimento outros que levam ao mesmo destino perfeccional, no que concerne ao poder do bem. Ao cogitarmos que o Ser procura livremente se encerrar na vida física, aspirando à liberdade do espírito, move-nos o desejo de ampará-lo.
Realçamos que existem nossos Irmãos, resplandecentes de luzes, e miríades de Seres que os acompanham, cada qual com a sua obra traçada, dispostos ao serviço de auxílio, que requer a graça do amor e da sabedoria. Aproximam-se de nós, sabendo do nosso destino comum, candidatos à humanidade desde milênios, após o conseguimento da forma elementar para abrigar o raciocínio. Eles, dispõem de há muito do entendimento, e sabem que a primeira obrigação é revertê-lo ao próximo. Eles nos identificam irmãos de criação carecendo de virtudes, motivo principal de sua retórica, e sabem que estaremos em campos opostos a um certo tempo, já que a convicção íntima que os anima pode nos faltar. Não lhes interessa, e não os inspira outro desejo, senão o de servir e, se ao fim verificarem que o entendimento se fez, estarão gratos à oportunidade que lhe demos de pagar os tributos devidos a um irmão de criação.
Um irmão de criação.
Rio — São Paulo, Abril de 1952 – Corrigido pelo Autor Espiritual em maio de 1992
Psicografado por Stig Roland Ibsen
“E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim, não pode ser meu discípulo”
Jesus – Lucas 14:27
“Servir para merecer”
“Todos possuímos escabroso pretérito por ressarcir, e, dos quadros vivos desse passado delituoso, recolhemos compulsoriamente os reflexos dos nossos laços inferiores que, à maneira de raízes do nosso destino, projetam sobre nós escuras reminiscências.”
Vozes do Grande Além – Cap. 8
Batuíra