Cantinho do Chico

Casos retirados do livro Lindos casos de Chico Xavier – de Ramiro Gama

O Lavrador e a Enxada

Chico Xavier, ainda hoje e há mais de vinte anos, é empregado na Fazenda de Criação do Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo.

Certa manhã, caminhava para o trabalho, atravessando largo trecho de campo no rumo do escritório, meditando sobre os tra­balhos mediúnicos a que se confiava. As exigências eram sempre muitas. Como agir para equilibrar-se na tarefa? Surgiam doentes, pedindo socorro… Aflitos rogavam consolação. Curiosos reclamavam esclarecimentos…

Ateus insistiam pela obtenção de fé. Os problemas eram tantos!

Quando curvava a cabeça, desanimado, aparece-lhe Emmanuel e aponta-lhe um quadro a pequena distância. Era um lavrador ativo, manejando uma enxada ao sol nascente.

– Reparou? – disse ele ao Médium – guiada pelo cultivador, a enxada apenas procura servir.

Não pergunta se o terreno é seco ou pantanoso, se vai tocar o lodo ou ferir-se entre as pedras… Não indaga, se vai cooperar em sementeira de flores, batatas, milho ou feijão… Obedece ao lavrador e ajuda sempre.

Logo, após, fez uma pausa, e considerou:

– Nós somos a enxada nas mãos de Jesus, o Divino Semeador.

Aprendamos a servir sem indagar.

Chico, tocado pelo ensinamento, experimentou iluminada renovação interior, e disse:

– É verdade! o desânimo é um veneno…

– Sim, – concluiu o orientador – a enxada que foge à glória do trabalho, cai na tragédia da ferrugem. Essa é a Lei.

O benfeitor despediu-se e o Médium abraçou o trabalho, naquele dia, de coração feliz e a alma nova.

 

Chico e a Luz do Lampião

Lembro-me bem. Estávamos em peregrinação nos arredores da “Comunhão Espírita-Cristã” com Chico Xavier. Sábado à noite, antes da reunião pública.

A passos vagarosos, Chico caminhava de casa em casa, seguido por uma pequena multidão. Àquela época, as ruas do Parque das Américas eram escuras, esburacadas, e o matagal as invadia parcialmente, dificultando a movimentação.

Lilico era o confrade que carregava o lampião, clareando o caminho.
Certo sábado, Lilico adiantou-se em excesso – uns vinte metros – e ficamos para trás, mergulhados na escuridão. Havia chovido e as poças d’água eram numerosas. Ouvindo a reclamação da turma, Chico chamou Lilico, legando-nos preciosa lição:

– “Lilico, meu filho, espere por nós… A luz não deve ir nem muito adiante, nem muito atrás… Para que possamos enxergar, é preciso que ela caminhe ao nosso lado…”.

O companheiro do lampião deteve-se e pudemos alcançá-lo. Durante estes anos todos, temos pensado na luz do lampião, comparando o que Chico dissera a Lilico com as revelações que nos têm sido feitas pelo Mundo Espiritual. Às vezes, desejamos que os espíritos nos tragam novas informações e detalhes da vida além da morte, esquecendo-nos de que toda revelação deve ser gradativa. À medida que caminharmos nas sendas da evolução, novos caminhos nos irão sendo descortinados pela Luz da Doutrina Espírita. Porque se mostrou afoito com o lampião que conduzia, nosso amigo deixou-nos sem norte…

De que nos valeria uma luz assim?!

Não nos esqueçamos de que a vinda de Jesus – a Luz do Mundo! – até nós foi preparada com séculos de antecedência; Isaías, quase oitocentos anos antes, falava no Messias ansiosamente aguardado…

No natural dinamismo que lhe é próprio, o Espiritismo irá suspendendo o véu da Revelação, à proporção exata de nossas próprias luzes! Os médiuns e os espíritos que se precipitarem abortarão as suas idéias e nada mais conseguirão do que estabelecer a confusão em nome do personalismo e da vaidade.

 

Março de 1994. Texto extraído do livro “Chico Xavier, 70 Anos de Mediunidade” do autor Carlos A. Baccelli, Editora Didier.)

 

A História da Chave

Com a saída do chefe da casa e dos filhos mais velhos para o trabalho e com a ausência das crianças na escola, Dona Cidália era obrigada, por vezes, a deixar a casa, a sós, porque devia buscar lenha, à distância.

Aí começou uma dificuldade. Certa vizinha, vendo a casa fechada, ia ao quintal e colhia as verduras. A madrasta bondosa preocupou-se. Sem verduras não haveria dinheiro para o serviço escolar.

Dona Cidália observou… Observou…

E ficou sabendo que lhes subtraía os recursos da horta; entretanto, repugnava-lhe a ideia de ofender uma pessoa amiga por causa de repolhos e alfaces.

Chamou, então, o Chico e lembrou.

– Meu filho, você diz que, às vezes, encontra o Espírito de Dona Maria. Peça-lhe um conselho. Nossa horta está desaparecendo e, sem ela, como sustentar o serviço da escola?

Chico procurou o quintal à tardinha e rezou e, como das outras vezes, a mãezinha apareceu.

O menino contou-lhe o que se passava e pediu-lhe socorro.

D. Maria então lhe disse:

– Você diga à Cidália que realmente não devemos brigar com os vizinhos que são sempre pessoas de quem necessitamos. Será então aconselhável que ela dê a chave da casa à amiga que vem talando a horta, sempre que precise ausentar-se, porque, desse modo a vizinha, ao invés de prejudicar os legumes, nos ajudará a tomar conta deles.

Dona Cidália achou o conselho excelente e cumpriu a determinação. Foi assim que a vizinha não mais tocou nas hortaliças, porque passou a responsabilizar-se pela casa inteira.

Gratidão

Chico levantara-se cedo e, ao sair de charrete para a fazenda, encontra-se no caminho com o Flaviano que lhe diz: – Sabe quem morreu?

– Não!…

– O Juca, seu ex-patrão. Morreu na miséria, Chico, sem ter nem o que comer…

– Coitado! E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos.

– A que horas é o enterro?

– Creio que vão enterrá-lo a qualquer hora, como indigente, no caixão da Prefeitura, isto é, no rabecão…

Chico medita, emocionado, e pede: – Flaviano, faça-me um favor: vá a casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.

Flaviano despede-se e parte.

Chico desce da charrete. Manda um recado para seu chefe.

Recorda seu ex-patrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali mesmo, no caminho, envia uma prece a Jesus:

“Senhor, trata-se do meu ex-patrão, a quem tanto devo; que me socorreu nos momentos mais angustiosos, que me deu emprego com o qual socorri minha família; que tanto sofreu por minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajude-me, Senhor”.

E, tirando o chapéu da cabeça e virando-o de copa para baixo, à guisa de sacola, foi bater de porta em porta, pedindo uma esmola para comprar um caixão para enterrar o extinto amigo.

Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, senão comovida com o ato do Chico.

Seu pai soube e veio ao seu encontro, tentando demovê-lo daquele peditório…

– Não, meu pai, não posso deixar de pagar tão grande dívida a quem tanto colaborou conosco.

Um pobre cego, muito conhecido em Pedro Leopoldo, é inteirado da nobre ação do Chico, a quem estima. Esbarra com ele:

– Por que tanta pressa, Chico?

– Meu Nego, estou pedindo esmolas para enterrar meu ex-patrão.

– Seu Juca!? Já soube. Coitado, tão bom! Espere aí, Chico. Tenho aqui algum dinheiro que me deram de esmolas ontem e hoje. E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado…

Chico olhou-lhe os olhos mortos e sem luz. Viu-os cheios de lágrimas. Comoveu-se mais.

– Obrigado, meu Nego! Que Jesus lhe pague o sacrifício.

Comprou, com o dinheiro esmolado, o caixão. Providenciou o enterro. Acompanhou-o até o cemitério.

E, já tarde, regressou à casa. Tinha vivido um grande dia.
Sentou-se à entrada da porta. Lá dentro, os irmãos e o pai observam-no comovidos.

Em prece muda, agradeceu a Jesus.

Emmanuel lhe aparece e lhe sorri. O sorriso do seu bondoso guia lhe diz tudo. Chico o entende.

Ganhara o dia, pagara uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de gratidão e de amor ao Divino Mestre.

Procissões de Desagravo

Ouçamos um caso relatado pelo jornal “A Flama Espírita”, de Uberaba, do mês de agosto do ano 2000 (retirado da internet – estante literária da Espírita Vox):

Contou-nos o prof. Lauro Pastor, residente em Campinas, amigo de Chico Xavier desde Pedro Leopoldo, que certa vez, ao visitá-lo, caminhando em sua companhia pelas ruas da cidade, se depararam com uma procissão… A Igreja matriz de Pedro Leopoldo ficava, como fica, na mesma rua onde se ergueu o Centro Espírita Luiz Gonzaga; à época, os católicos organizavam algumas procissões ditas de desagravo contra os espíritas.

Observando que a procissão, com diversos acompanhantes e andores, se aproximava, o prof. Lauro sugeriu a Chico que apressassem o passo, pois, caso contrário, não poderiam depois atravessar a rua, a menos que cortassem a procissão pelo meio, o que seria uma afronta.

Pedindo ao amigo que não se preocupasse, Chico parou na esquina e, enquanto a procissão seguia o seu roteiro, manteve-se o tempo todo em atitude de respeito e de oração, ainda convidando o amigo para que ambos se descobrissem, ou seja, tirassem o chapéu – sim, porquanto, naqueles idos de 1950, Chico também usava chapéu.

O prof. Lauro, que mantém ao lado da esposa, D. Daisy, um belíssimo trabalho de formação profissional para crianças carentes – tem uma escola de torneiros mecânicos –, disse-nos que nunca mais pôde esquecer aquela lição de tolerância religiosa que lhe foi dada por Chico, enfatizando ainda que foi dessa maneira que, aos poucos, o médium venceu a resistência de seus opositores da Doutrina.

 

por José Antônio Vieira de Paula, O Consolador – Um Minuto com Chico Xavier

A Caridade e a Oração

O Centro Espírita Luiz Gonzaga” ia seguindo para a frente… Certa feita, alguns populares chegaram à reunião pedindo socorro para um cego acidentado.

O pobre mendigo, mal guiado por um companheiro ébrio, caíra sob o viaduto da Central do Brasil, na saída de Pedro Leopoldo para Matozinhos, precipitando-se ao solo, de uma altura de quatro metros. O guia desaparecera e o cego vertia sangue pela boca. Sozinho, sem ninguém…

Chico alugou pequeno pardieiro, onde o enfermo foi asilado para tratamento médico. Curioso facultativo receitou, graciosamente. Mas o velhinho precisava de enfermagem.

O médium velava junto dele à noite, mas durante o dia precisava atender às próprias obrigações na condição de caixeiro do Sr. José Felizardo.

Havia, por essa época, 1928, uma pequena folha semanal, em Pedro Leopoldo. E Chico providenciou para que fosse publicada uma solicitação, rogando o concurso de alguém que pudesse prestar serviços ao cego Cecílio, durante o dia, porque à noite, ele próprio se responsabilizaria pelo doente. Alguém que pudesse ajudar. Não importava que o auxílio viesse de espíritas, católicos ou ateus.

Seis dias se passaram sem que ninguém se oferecesse.

Ao fim da semana, porém, duas meretrizes muito conhecidas na cidade se apresentaram e disseram-lhe:

– Chico, lemos o pedido e aqui estamos. Se pudermos servir…

– Ah! Como não? — replicou o médium — Entrem, irmãs! Jesus há de abençoar lhes a caridade.

Todas as noites, antes de sair, as mulheres oravam com o Chico, ao pé do enfermo. Decorrido um mês, quando o cego se restabeleceu, reuniram-se pela derradeira vez, em prece, com o velhinho feliz. Quando o Chico terminou a oração de agradecimento a Jesus, os quatro choravam. Então, uma delas disse ao médium:

– Chico, a prece modificou a nossa vida. Estamos a despedir-nos. Mudamo-nos para Belo Horizonte, a fim de trabalhar.

 

E uma passou a servir numa tinturaria, desencarnando anos depois e a outra conquistou o título de enfermeira, vivendo, ainda hoje, respeitada e feliz.

História de um Soneto

Em 1931. desencarnara um amigo do Chico, em Pedro Leopoldo.

Cavalheiro digno, católico muito distinto e pai de família exemplar.

O Médium acompanha o enterro.

Na cidade, da igreja ao Cemitério, é longo o percurso.

Um padre presente abeira-se do rapaz e pergunta:

Então, Chico, dizem que você anda recebendo mensagens do outro mundo…

É verdade, reverendo. Sinto que alguém me ocupa o braço e se serve de mim para escrever…

Tome cuidado. Lembre-se de que o Espírito das Trevas tem grande poder para o mal.

Entretanto, padre, os espíritos que se comunicam somente nos ensinam o bem.

O sacerdote retirou um papel em branco da intimidade de um livro que sobraçava e convidou:

Bem, Chico, estamos no Cemitério, acompanhando um amigo morto… Tente alguma coisa.

Vejamos se há aqui algum espírito desejando escrever.

Chico recebe o papel e concentra-se.

Em poucos instantes, sente o braço tomado pela força espiritual e psicografa a poesia aqui transcrita:

 

ADEUS

O sino plange em terna suavidade,

No ambiente balsâmico da igreja;

Entre as naves, no altar, em tudo adeja

O perfume dos goivos da saudade.

 

Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;

E a alma que regressou do exílio beija

A luz que resplandece, que viceja,

Na catedral azul da imensidade…

 

Adeus, Terra das minhas desventuras…

Adeus, amados meus…“ — diz nas alturas…

A alma liberta, o azul do céu singrando…

 

Adeus… — choram as rosas desfolhadas,

Adeus… — clamam as vozes desoladas

De quem ficou no exílio soluçando… 

 

Auta de Souza

Este soneto foi incorporado ao “Parnaso de Além Túmulo”.

 

A Água da Paz

Em torno da mediunidade, improvisam-se, ao redor do Chico, acesas discussões.

É, não é. Viu, não viu.

E o médium sofria, por vezes, longas irritações, a fim de explicar sem ser compreendido.

Por isso, à hora da prece, achava-se quase sempre desanimado e aflito.

Certa feita, o Espírito de Dona Maria João de Deus compareceu e aconselhou-lhe:

Meu filho, para curar essas inquietações você deve usar a Água da Paz.

O Médium, satisfeito, procurou o medicamento em todas as farmácias de Pedro Leopoldo.

Não o encontrou. Recorreu a Belo Horizonte. Nada.

Ao fim de duas semanas, comunicou à progenitora desencarnada o fracasso da busca.

Dona Maria sorriu e informou:

Não precisa viajar em semelhante procura.

Você poderá obter o remédio em casa mesmo.

A Água da Paz pode ser a água do pote.

Quando alguém lhe trouxer provocações com a palavra, beba um pouco de água pura e conserve-a na boca. Não a lance fora, nem a engula. Enquanto perdurar a tentação de responder, guarde a água da paz, banhando a língua.

O Médium baixou, então, os olhos, desapontado.Compreendera que a mãezinha lhe chamava o espírito à lição da humildade e do silêncio.

Medicação Pela Fé

A moça abatida, num acesso de tosse, chegara ao “Luiz Gonzaga” com a receita médica.

Estava tuberculosa.

Duas hemoptises já haviam surgido como horrível prenúncio.

O doutor indicara remédios, entretanto…

Chico, — disse a doente — o médico me atendeu e aconselhou-me a usar esta receita por trinta dias…

Mas, não tenho dinheiro. Você poderia arranjar-me uns cobres?

O Médium respondeu com boa vontade:

Minha filha, hoje não tenho… E meu pagamento no serviço ainda está longe…

Que devo fazer? Estou desarvorada… Chico pensou, pensou e disse-lhe:

Você peça à nossa Mãe Santíssima socorro e o socorro não lhe faltará. A que horas você deve fazer a medicação?

De manhã e à noite.

Então você corte a receita em sessenta pedacinhos.

Deixe um copo de água pura na mesa, em sua casa e, no momento de usar o remédio, rogue a proteção de Maria Santíssima.

Tome um pedacinho da receita com a água abençoada em memória dela e repetindo isso duas vezes por dia, no horário determinado, sem dúvida, pela fé, você terá usado a receita.

A enferma agradeceu e saiu.

Passado um mês, a moça surgiu no Centro, corada e refeita.

Oh! é você? — disse o Médium.

Sim, Chico, sou eu. Pedi o socorro de Nossa Mãe Santíssima. Engoli os pedacinhos do papel da receita e estou perfeitamente boa.

Então, minha filha, vamos render graças a Deus. E passaram os dois à oração.

Humorismo Materno

Em 1931, “mandar alguém para o inferno” constituía grave ofensa.

E um dos missionários católicos que visitaram Pedro Leopoldo naquela época, no zelo com que defendia a Igreja Romana, falou do púlpito que o Chico, o Médium espírita que se desenvolvia na cidade, devia ir para o inferno.

Chico, que freqüentara a Igreja desde a infância, ficou muito chocado.

À noite, na reunião costumeira, aparece a progenitora desencarnada e, reparando-lhe a inquietude, pergunta-lhe, bondosa o motivo da aflição que trazia.

Ah! estou muito triste, — disse o rapaz.

Por que?

Ora, o padre me xingou muito…

Que tem isso? Cada pessoa fala daquilo que tem ou daquilo que sabe.

Mas a senhora imagine — clamou o Chico — que ele me mandou para o inferno…

O Espírito de Dona Maria sorriu e falou:

Ele mandou você para o inferno, mas você não vai. Fique na Terra mesmo.

O Médium, ante o bom humor daquelas palavras, compreendeu que não convinha dar ouvidos às condenações descabidas.

E o serviço da noite desdobrou-se em paz.

Quem Dera Que Você Fosse o Chico ...

Numa livraria de Belo Horizonte, servia um irmão que, pelo hábito de ouvir constantes elogios ao Chico Xavier, tomou-se de admiração pelo Médium.

Leu, pois, com interesse, todos os livros de Emmanuel, André Luiz, Néio Lúcio, Irmão 10º e desejou, insistentemente, conhecer o psicógrafo de Pedro Leopoldo.

E aos fregueses pedia, de quando em quando:

Façam-me o grande favor de me apresentar o Chico, logo aqui apareça.

Numa tarde, quando o Aloísio, pois assim se chamava o empregado, reiterava a alguém o pedido, o Chico entra na Livraria.

Todos os presentes, menos o Aloísio, se surpreendem e se alegram. Abraçam o Médium, indagam-lhe as novidades recebidas. E depois, um deles se dirige ao Aloísio:

Você não desejava ansiosamente conhecer o nosso Chico?

Sim, ando atrás desse momento de felicidade…

Pois aqui o tem.

Aloísio o examina; vê-o tão sobriamente vestido, tão simples, tão decepcionante. E correspondendo ao abraço do admirado psicógrafo, com ar de quem falava uma verdade e não era nenhum tolo, para acreditar em tamanho absurdo:

Quem dera que você fosse o Chico, quem dera!…

E Chico, compreendendo, que Aloísio não pudera acreditar que fosse ele o Chico pela maneira como se apresentava, responde-lhe, candidamente:

É mesmo, quem me dera… E, despedindo-se, partiu com simplicidade e bonomia, deixando no ambiente uma lição, uma grande lição, que ia depois ser melhormente traduzida por todos, e, muito especialmente, pelo Aloísio…